(texto escrito para o
Terras do Ave a propósito do
debate com os candidatos à Câmara)
As campanhas eleitorais são momentos ruidosos. Tão intensos que quase ocultaram três acontecimentos recentes verdadeiramente notáveis em termos ambientais na nossa região. Um foi a inauguração da nova Central de Compostagem da LIPOR. Grande parte do nosso lixo vai deixar de ser queimado para ser transformado em fertilizante. Pelo impacte que vai ter, e mesmo pela sua qualidade em termos tecnológicos e estéticos, está para o ambiente como a Casa da Música está para as artes. O segundo foi a inauguração da linha amarela do metro. Em menos de 15 minutos fui do pólo universitário até ao centro de Gaia, num veículo de luxo. Numa região onde tantos dramas diários estão relacionados com a travessia do Douro, merecia melhor destaque.
O terceiro acontecimento foi justamente o exercício notável de democracia traduzido no conjunto de debates organizados por 10 organizações não governamentais independentes com os candidatos às Câmaras de Marco de Canavezes, Matosinhos, Porto e Vila Nova de Gaia. O nosso Concelho fechou este ciclo no passado Sábado e posso dizer que foi o debate que correu melhor. Primeiro porque estavam presentes todos os candidatos, que assim deram provas de espírito democrático. Foi a única vez que se encontraram todos “ao vivo” para um debate construtivo de ideias e acho que o objectivo foi atingido. Em segundo lugar porque o público aderiu em peso e com grande civismo. Se tivesse pedido para se retirarem todos os ambientalistas activos e os militantes das várias candidaturas, ainda assim a sala continuaria cheia.
Foram duas horas em que especialistas colocaram questões sobre urbanismo, biodiversidade, agricultura ou cidadania. Não cabe aqui neste espaço tecer considerações sobre todas as respostas.
Não posso contudo deixar de falar sobre a Reserva Ornitológica de Mindelo, para esclarecer duas conclusões fundamentais do estudo realizado pela Universidade do Porto, por encomenda da Câmara Municipal. Quanto ao interesse da área, ficou provado que é mais do que local, regional ou nacional. É universal! Existem aqui espécies que não existem praticamente em mais local nenhum do mundo. Já para não falar do “carácter pioneiro” ou do “notável património de prática de educação ambiental e participação das populações”. Outro assunto é a questão da classificação da área e da melhor forma de a gerir. Aí o estudo é taxativo: “defende-se a criação de uma Área de Paisagem Protegida” (que legalmente implica um pedido de classificação por parte da Câmara) e considera-se fundamental que a sua gestão seja “assegurada pela administração local (em concreto, pela Câmara Municipal de Vila do Conde), em articulação com a administração central e com a Universidade do Porto”.
Chegou a hora de avançar. A entrega de um pedido de classificação para a ROM deverá ser a primeira acção a desempenhar pelo futuro presidente de Câmara. Para acabar de vez com o clima de indefinição que está a fomentar toda a política, literalmente de terra queimada, que está no terreno.
E para que daqui a quatro anos não optemos por projectar o filme deste debate (em que todos os candidatos defenderam a importância da área), em lugar de realizar um novo para discutir outros temas.
Uma última referência às questões do público. Não houve tempo para responder a todas, mas foram transcritas e enviadas para os candidatos. Se as respostas chegarem em tempo útil serão colocadas em
http://www.amigosdomindelo.pt/, juntamente com os restantes elementos lá colocados sobre as propostas dos candidatos.
Está expresso na Constituição da República Portuguesa: o Estado de direito ambiental é um Estado democrático, que se constrói com o envolvimento e a participação dos cidadãos. No próximo dia 9 vote com consciência… ecológica.