terça-feira, julho 25, 2006

Estás equivocado




- quando não percebes o que eu sou, um mero mensageiro dos amigos do mindelo, devidamente legitimado democraticamente, ou talvez um pouco mais, um catalisador, mas não os reagentes quimicos, quando não percebes que mesmo que eu desapareça, haverá outros que ocupem o meu lugar, quando não percebes que eu apenas falo em nome de muitos outros, por questões meramente circunstanciais, outros a quem empresto a minha voz, mas que em muitos outros lugares, fora da visibilidade mediática, pensam e dizem exactamente o mesmo que eu, quando confundes o mensageiro com a mensagem, achando que atacando-me pessoalmente deixarás de ouvir aquilo que berra

- quando me vês como um empecilho, uma dor de cabeça, alguém a quem adorarias silenciar, como o tentaste fazer esta segunda-feira, caindo no ridiculo, quando nao percebes que para mim a critica nao é apenas um direito, é um dever

- quando achas que não consigo separar a minha actividade profissional do meu activismo, que embora guiados pelo mesmo ideal, sao diferentes lugares da minha vida, sem conflitos de interesse, quando chegas ao ponto de tentar prejudicar o meu emprego por motivos de mindelo

- quando não percebes que eu, e todos os outros como eu, cidadaos empenhados de vila do conde, conscientes e com conhecimento, poderiamos ser um recurso fundamental para vila do conde ser um sitio melhor onde se viver

- quando não percebes que o futuro nao se faz com asfalto ou betao, tentando encobrir os males que estao à vista de todos e colocando em risco a saúde de tantas pessoas, e que a confiança pessoal não se constroi com mentiras ou intrigas, tentando minar a confiança entre amigos

- quando não percebes a importancia que uma reserva ornitologica de mindelo, devidamente cuidada, poderia ter, para tantas especies que habitam este planeta, a começar pela nossa

- quando achas que a unica solução é comprar todos os terrenos da reserva e mandar os proprietarios embora, compensando alguns indignos dos direitos que supostamente possuem, pagando talvez favores antigos, ignorando tantos outros que querem ver a reserva cuidada, não percebendo as condições que existem para os envolver a todos numa recuperação ecologica e social que iria trazer riqueza, em especial para os proprietários

- quando achas que basta deixar passar o tempo para que eu e outros amigos do mindelo percam as forças e desistam, se cansem de lutar por aquilo a que todos temos direito, sem perceber que para nós esta é uma questão de, literalmente, vida ou morte

- quando achas que eu, e a natureza, iremos sucumbir às agressões

- quando encaras tudo isto como uma questao de protagonismos, sem perceber que o unico protagonista aqui é, e será sempre, a reserva e aquilo que ela representa de esperança, de beleza, de resistência, de memória, de respeito, de diversidade, de humildade, de sabedoria, de valores, de identidade, de amor

Esquece, esquece! acredita num mundo melhor, confia, ninguem quer fazer-te mal, ninguem te quer correr do lugar, ninguem quer ser "politico" tal qual o entendes, ninguem quer medalhas, louvores ou lugares ao sol... quero apenas um lugar à sobra de um frondoso sobreiro, enraizado em plenas dunas, ouvir o canto dos passaros, ver as estrelas no céu, ouvir o riso das crianças a descobrir um mundo que corremos o risco de perder para sempre.

Paz.

3 comentários:

Anónimo disse...

bela resposta ao VC, belíssima... :)

Bruno Maia disse...

Bravo, Bravo!!:)
Gostei muito da coragem!
Abraço!

Anónimo disse...

"O que mais há na terra, é paisagem. Por muito que do resto lhe falte, a paisagem sempre sobrou, abundância que só por milagre infatigável se explica, porquanto a paisagem é sem dúvida anterior ao homem, e apesar disso, de tanto existir, não se acabou ainda. Será porque constantemente muda: tem épocas no ano em que o chão é verde, outras amarelo, e depois castanho, ou negro. E também vermelho, em lugares, que é cor de barro ou sangue sangrado. Mas isso depende do que no chão se plantou e cultiva, ou ainda não, ou não já, ou do que por simples natureza nasceu, sem mão de gente, e só vem a morrer porque chegou o seu último fim.
Não faltam cores a esta paisagem. Porém, nem só de cores. Há dias tão duros como o frio deles, outros em que não se sabe de ar para tanto calor: o mundo nunca está contente, se o estará alguma vez, tão certa tem a morte."