sexta-feira, março 09, 2007

Pela sua saúde, vá passear!

(bravosdomindelo no primeiro de janeiro de hoje)

É possível que esteja a ler este texto em frente ao mar. Porquê? Porque será que nos sentimos tão bem mirando o horizonte, no topo de uma montanha ou na praia? Porque gostamos tanto de piqueniques? Porque será tão especial passear numa floresta, ouvir as aves cantar ou apreciar as flores?

E será que aquele “vazio” que tantos sentem nas suas vidas não será apenas a falta desta ligação com os ritmos, cores e sons naturais? Todos sabemos que o contacto com a natureza aumenta o nosso bem-estar, faz-nos sentir bem… afinal, todos precisamos de “espairecer” de vez em quando, não?

Os cientistas já conseguiram provar este efeito curador da Natureza, a nível físico e mental. E até lhe deram um nome: biofilia. Comprovaram que uma simples janela para “olhar” o verde permite que os doentes se curem mais rápido ou que os trabalhadores sejam mais produtivos. O contacto com os animais, por exemplo, diminui a pressão arterial e o colesterol, reduz o stress e a sensação de dor. O governo britânico ficou convencido e investiu recentemente numa campanha para que se passe mais tempo em espaços verdes, numa estratégia para reduzir os custos com o sector da saúde. Por isso não estranhe que um dia destes um médico lhe receite um gato ou meia hora no jardim…

Ainda ontem perguntava qual o segredo da juventude a alguém que me disse que tinha feito 45 anos e parece que tem apenas 30… respondeu-me que passa todos os fins-de-semana a trabalhar na quinta, recarregando energias em contacto com a terra. Uma amiga que fez o Caminho de Santiago comigo escreveu: “adorei ter brincado com a bicharada toda no caminho, ter sentido as aves, sobretudo as pequeninas, os gatos emboscados nas ervas... ainda agora, fecho os olhos e ouço a música do vento a brincar nas folhas das árvores; os ribeiros a cantarem lestinhos por entre as pedras; a chuva, ora suave ora intensamente, a cair sobre a natureza, criando vida, permitindo a intensidade daquele verde tão relaxante que caracteriza a Galiza.” Outra amiga descrevia a sua experiência de escuteira: “a cada caminhada sentia-me bem, apenas com uma mochila as costas pelo monte fora, sentindo a natureza e tudo o que ela nos dá, que podemos ter de graça e teimamos em estragar… sentia-me livre, e quando chegava ao topo da montanha sentia-me em casa como se fosse possível até mesmo voar…”.

Num inquérito realizado em 2004 pelo Observa perguntaram o que gostariam as pessoas de ter à volta de sua casa. Cerca de 86% disseram mais “natureza” (jardins, campo, mar e praia) e apenas 8% optaram por mais equipamentos desportivos. Todos os promotores imobiliários sabem isto e por isso metem sempre o verde nas suas maquetas e a natureza nos slogans publicitários.

Por outro lado a indústria do turismo é a que mais cresce a nível mundial, destacando-se o ecoturismo, ou turismo de natureza, com taxas de crescimento de 20% ao ano. Só amantes da observação de aves são cerca de 80 milhões. Por isso é que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) estão a promover, em conjunto, uma central de reservas para grupos de turistas que queiram visitar explorações agrícolas onde as condições ambientais permitam a observação de aves. No programa de ecoturismo dos Amigos do Mindelo já participaram centenas de pessoas, de todas as idades, tamanhos e feitios.

Já estão a ver onde eu quero chegar, não? A conclusão é simples. A Reserva Ornitológica de Mindelo, se protegida, pode transformar-se numa fonte de saúde para os Vilacondenses e uma verdadeira galinha dos ovos de ouro, em especial para os proprietários. Isto se não tentarem matar a galinha, claro. Mesmo hoje em dia, com todo o lixo que por lá anda e sem nenhuma estrutura de apoio, são às dezenas as pessoas que encontro a correr, fazer ginástica ou fotografia de natureza ou apenas apreciar a paisagem. Uma simples prova de orientação juntou 600 pessoas na Reserva! O potencial está todo lá. Só falta a visão e a vontade política. Falta cumprir as promessas que se arrastam eternamente.

Por isso, caro Eng. Mário de Almeida, se está tão preocupado com a saúde dos Vilacondenses, não pense só nas urgências. Invista na prevenção. Na saúde e não na doença. É com todo o carinho e preocupação por si que digo: vá passear! E inspire-se em qualquer uma das áreas protegidas que já existem em tantos sítios, muitos dos quais sem metade do encanto que tem a ROM. E, já agora, leve o Ministro da Saúde consigo.

PS. Quer vir passear connosco e experimentar por si próprio o poder curador da Natureza? O próximo programa de ecoturismo é já no dia 17 de Março: iremos partir à descoberta da paisagem e da cultura de Aboim. Trata-se de uma tradicional povoação de montanha no Concelho de Fafe, um autêntico miradouro para as serras da Cabreira, do Marão, do Gerês, para a Albufeira do Ermal e para o vale da ribeira de Linhares. Pode encontrar mais informações em http://ecoturimindelo.blogspot.com. O passeio é gratuito e dispensa receita médica.

2 comentários:

José Leite disse...

Excelente post! "Biofilia"?, este neologismo precisa de ser aprofundado. A ROM é, de facto, um potencial (real) motor do chamado eco-turismo. Esta faceta tem sido muito aproveitada em diversos destinos turísticos, nomeadamente na Madeira.
O "diamante está por lapidar"...

pamacedo disse...

ate apetece escrever "dar diamantes a porcos"...