segunda-feira, dezembro 25, 2006

CONTRA MUNDI



As fadas, sabes, dormem todo o Inverno.
Um sono só, uma espada invencível
suspensa sobre a crueldade do mundo.

Às vezes, em segredo, molham os lábios
na água de outros lábios, mas a sede e o deserto
estiolam o corpo.

O corpo das fadas é um arco de bailarina
um trapézio no mais puro abismo.
Algures, no mar alto
Algures, nos jardins de Granada
Algures, nos bosques mais profundos

dormem as fadas.

Hoje, ao conhecê-las, demorei um pouco,
tropecei nas palavras, bebi o vinho novo,
afaguei-lhes os cabelos, mordi-lhes a pele.
Séculos e séculos de beleza e de sofrimento
entraram em mim lentamente.

Só então chegaste e com o sorriso
fechaste a porta.

Porto, 12 de Fevereiro de 2005

João Teixeira Lopes

PS. candidado ao primeiro lugar no concurso.
a ilustração é da minha responsabilidade

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