terça-feira, outubro 24, 2006

Boicote!!!



Para quem não sabe a IKEA é uma multinacional ligada à produção e comercialização de mobiliário de baixo custo, apostando num design utilitário e moderno. Foi fundada na Suécia mas é propriedade de uma fundação registada na Holanda (excelente forma de fugir aos impostos), controlada por Ingvar Kamprad, um dos homens mais ricos do mundo, com um passado Nazi (do qual se arrependeu publicamente).

A IKEA possui uma loja em Alfragide (2004) e pretende abrir mais 6 lojas, uma das quais em Matosinhos, a abrir em 2007. Hoje anunciou a decisão de construir 3 fábricas em Paços de Ferreira.

A IKEA abriu uma espécie de "concurso público" para decidir a localização das fábricas: Estarreja, Paredes ou Paços de Ferreira. As autarquias apresentaram as suas propostas.

Paços de Ferreira apresentou uma proposta arrasadora em termos de preço.
Pudera! Terrenos classificados de Reserva Ecológica Nacional, com sobreiros (uma espécie supostamente protegida), nas cabeceiras das linhas de água da Serra da Agrela, com declives superiores a 40%, e por tudo isto desvalorizados em termos de mercado.
Paredes apresentou uma zona industrial, devidamente preparada, financiada por fundos comunitários.

É quando o Governo decide "dar uma mão" a Paços de Ferreira, suspendendo o PDM em 53 hectares de terreno, com a colaboração da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (suspensão publicada em Diário da República de 20 de Outubro), desvirtuando assim as "regras do jogo."
A que se recorre? Como habitual, às "medidas preventivas" que foram criadas com outro fim. Qual o argumento? O do interesse público, já que "não existem alternativas na região".
E ali mesmo ao lado, zonas industriais pagas por todos nós, completamente vazias.

Afinal para que se fazem planos de ordenamento? Para baixar os preços dos terrenos para a construção de fábricas?


Mas sabem o que eu acho? Que o Governo se meteu com a pessoa errada (presidente da CM de Paredes), alguém para quem o ordenamento não é uma palavra vã. Pessoa com quem reuni, por coincidência, no exacto momento em que tinha descoberto o "golpe" preparado pela CCDR e que coloquei em contacto com a Quercus. Quando é preciso, autarquias e associações de defesa do ambiente, juntas pelo mesmo objectivo de salvaguardar o território. Alguém vê mal nisso?

Porque me meti nisto? Porque calhou estar lá. Porque luto pelo mesmo (Nassica, Lactogal, Quimonda, todas construidas em áreas de reserva em Vila do Conde). Porque ainda acredito no ordenamento do território e que é preciso termos árvores, nem que seja para fazer mobiliário.

Entretanto, e como não posso boicotar o Governo (ou posso? hummm...), e enquanto consumidor, decidi boicotar a IKEA, que certamente não é alheia a tudo isto e que já tem um historial internacional de localizações "conflituosas".
E para já seguem protestos para a IKEA, CMPaços de Ferreira, Ministro da Economia, Primeiro-Ministro, CCDR e Agência Portuguesa para o Investimento.

Haja vergonha!

PS. Não estou contra a instalação da fábrica em Portugal, não faz é sentido o Governo estar a "oferecer" o nosso património natural e a ignorar tudo o que são regras de ordenamento do território e mesmo regras de competição entre municípios.
Como diria o diácono Remédios, não havia necessidade!

5 comentários:

Anónimo disse...

É óptimo que a IKEA aposte o lançamento de 4 fábricas, salvo o erro, na região norte, sendo este o local com um dos maiores índices de desemprego.CONTUDO,o local escolhido não foi de todo louvável, com tanto sítio abandonado, não era muito mais lógico,reaproveitá-lo e recuperá-lo ?! Ou é, simplesmente mais fácil matarem o que ainda temos de bom neste país cinzento... ?? Assim só estão a conseguir encher o nosso Portugal num local(entre outros) cheio de betão, florestas ardidas, edíficios históricos e habitacionais em estados de conservação lamentáveis.... e agora querem tirar o que de melhor temos !!! Estudem alternativas...não é muito díficil :(

Anónimo disse...

o Sr. Presidente Celso Ferreira n~~ao lhe terá dito, porventura, que os terrenos que propôs ao IKEA, apesar de estarem classificados como zona industrial, estão pejados de linhas de água, conforme demonstra a carta de condicionantes do Plano Director Municipal de Paredes? Ou mostrou? E ainda continua a achar que o Dr. Celso se preocupa com o ambiente e com o ordenamento do território? E ainda continua a achar que a Quercus é uma instituição séria, que espera pelos momentos de meidatização para divulgar dados de que dispõe há meses (dados esses fornecidos pela Câmara de Paredes)? E não se apercebeu ainda que o terreno porposto por Paredes tem inclinações superiores e necessidades de movimentos de terras superiores ao de Paços de Ferreira? E não reparou ainda que a Quercus está a falar de um terreno diferente daquele onde de facto vão ficar as fábricas?
Só lhe interessa ouvir e saber o que lhe dá jeito, não é? Veja o Dr. Celso a mentir com todos os dentes no JN de hoje, confrontado com uma carta de condicionantes do seu PDM (irrefutável), diz que não há lá nada.
Vá lá a Parada Baltar visitar o terreno e tire as suas conclusões.
Mas cuidado! Não se engane na localização.
E cresça!

pamacedo disse...

caro anónimo, porque nao identificar-se? é um primeiro passo para uma discussao seria. quanto à escolha do timing da quercus, nao me parece condenavel que escolha o momento mais mediatico. é uma estrategia de comunicação perfeitamente normal. quanto às condicionantes do terreno proposto por paredes, dou-lhe o beneficio da duvida e agradeço o contributo para a discussao. mas ficam todos os argumentos que apresentei com falta de resposta...

Carlos Manta Oliveira disse...

Olá Pedro.

As minhas honestas desculpas, mas não consigo compreender em que é que um boicote ao IKEA vá contribuir para alterar minimamente a situação.

Para já a culpa da IKEA é a mesma que a nossa quando compramos umas sapatilhas da NIKE ou uma bola da ADIDAS, certo? Tudo bem que se podiam recusar a aceitar um presente podre, e darem um exemplo de responsabilidade ambiental.

Mas a irresponsabilidade neste caso não será do governo português e autarquias, assim como do sistema jurídico e legislativo que permitem invocar interesse nacional para violar as leis de protecção ambiental?

Concordo que se boicote a NIKE e a ADIDAS, mas o que aqui está proposto é boicotar o merceeiro da esquina, porque ele tem uma camisola da PUMA, não? A PUMA perde um cliente, mas o impacto todo do boicote, cai sobre o merceeiro, que não violou nenhuma lei.

Não será mais sensato pedir o boicote a quem realmente é responsável por esta situação?

Um Abraço,

Carlos

pamacedo disse...

ora, nao é preciso pedir desculpas.. só agradeço contributos para a discussao.
neste caso a IKEA tem claramente culpas no cartorio. eles é que lançaram o "concurso" às autarquias e foram eles que escolheram o local e nao o governo. o governo so lhes facilitou a tarefa.

por acreditar no poder do individuo, enquanto consumidor e nao só, continuarei a boicotar a ikea

abraço

pedro