quarta-feira, outubro 04, 2006

Estado Novo?

"Não surpreenderá ninguém esta informação; nem por isso deixo de a considerar útil mesmo sem conhecer a distribuição temporal das análises, os locais precisos em que se realizaram e os números de amostras recolhidas e analisadas em 2004 e 2005.

Não posso, no entanto, deixar de sublinhar a ironia deste facto em Vila do Conde. A autarquia fala constantemente de "ambiente e qualidade vida". É de bom tom. Noutros planos (casco histórico, vias de comunicão, por exemplo) até é justo. Mas esta questão do ambiente é feita quase sempre numa linguagem narcisista, de propaganda tantas vezes a roçar o ridículo que faz lembrar o Estado Novo que Deus tenha. Veja-se o "Boletim Municipal" do século XXI e compare-se a informação do que se vai passando pelas freguesias com aquilo que o Jornal "Renovação" dos idos de cinquenta e sessenta do século passado dizia aos seus leitores de então. Ainda não desesperei de ver um texto no actual Boletim Municipal ou num dos jornais da paróquia que supere aquele com que o" Renovação" brindava os seus leitores aquando da inauguração da luz pública para a praia de Labruge...

Com este quadro diante dos olhos - literalmente! - o Laboratório para a "Monitorização da Qualidade Ambiental" (não sei se é exactamente esta a designação, mas tem uma linda arquitectura, sem ironia) situado na Foz do Ave e inaugurado na altura das últimas eleições autárquicas, se pudesse sorria. Ou, sarcástico, gargalhava tamanha é a distância entre o discurso e a prática, tamanha é a hipocrisia que o poder político quiz que fosse.
Refiro-me ao poder polítco local, desde logo, mas não só, porque o Ave começa a ser um cano de esgoto muito antes de chegar a Vila do Conde. É claro que além do Ave há outros cursos de água e muitos outros factores que também dão a sua ajuda para a "qualidade" da água das praias. Usando "autarquês" politicamente correcto podemos perguntar: qual a percentagem de "águas residuais" potencialmente implicadas nesta questão que é tratada?
Deixando de lado esta semântica: para onde vão os esgotos das (muitas!) habitações próximas da costa? E os esgotos das outras? Evidentemente que se a autarquia tivesse investido nesta frente por certo que o dinheiro não daria para tantas obras de superfície, essas sim, geradoras de votos seguros!

Aqui é que está o drama. Em 30 anos de poder autárquico não creio errar se disser que já houve (muito) melhor ambiente económico no país para investir na superação das causas da má qualidade da água das praias. Agora... bem, agora em Vila do Conde hei-de continuar a ouvir falar do "importantíssimo" equipamento para a monitorização da qualidade da água e do ar e do seu alcance na "qualidade vida dos vilacondenses" (cito de memória o incontornável Boletim Municipal). Mas também hei-de ouvir falar das descargas poluentes no mar, no Ave e noutros cursos de água. E, naturalmente, nos rigorosíssimos inqéritos que vão ser pedidos e realizados e nas multas exemplares que vão ser aplicadas aos infractores... Resta a "esperança" de que mais urbanizações de superior qualidade na Reserva Ornitológica de Mindelo gerem receitas que ajudem o pobre poder autárquico a resolver este problema. Nada de desesperos!"
mensagem recebida de professor da UTAD, natural de Vila do Conde, cuja identidade se protege

1 comentário:

pamacedo disse...

Bem, já tenho a minha quota parte de ameaças (de morte, inclusive) e ataques por parte da Câmara Municipal, por isso não me posso queixar :) de facto sente-se um grande clima de medo, em especial devido à rede de dependências criadas pela autarquia (empregos, subsídios, licenciamentos de actividades...)... enfim... tudo isto há de acabar um dia...