"não sei, hesito"
Estou inclinado para o Assim Não (já viram o filme do Marcelo?), mas... é um tema complicado...
"Certamente não saberão que em Portugal é crime partir (abortar) ovos de
cegonha (independentemente do número de semanas de gestação). Este link é sobre uma senhora que foi condenada por ter derrubado ninhos com ovos de cegonha. Fantástico este País onde vivemos, não é?"
quinta-feira, janeiro 25, 2007
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2 comentários:
Votar SIM é votar na VIDA
Quando passo na rua e observo os cartazes da campanha do NÃO, com o argumento de ir salvar vidas, faz-me perguntar:
- Quantas vidas julgam que irão salvar? ( se é que acreditam, de facto, que irão salvar alguma vida!)
- a única consequência vital do voto NÃO é a morte, a morte das mulheres e crianças vítimas de abortos realizados em condições desumanas.
- Pois com incriminação ou sem ela, as mulheres que, por alguma razão, estão determinadas a interromper a gravidez, irão fazê-lo de qualquer forma, mesmo que arrisquem ser presas, mesmo que arrisquem a vida.
- Se o NÃO ganhar, a única consequência prática é o conforto psicológico de alguns, por continuarmos a viver num país com «moralidade» acima da média europeia, onde mulheres vão a tribunal por terem interrompido voluntariamente a sua gravidez, mas também, num país onde mulheres jovens ficam inférteis ou morrem, devido ao aborto clandestino (tal como nos países subdesenvolvidos).
- Com o NÃO continuaremos no eterno ciclo vicioso: Más condições de vida/ falta de informação = aborto clandestino e suas consequências/ mulheres de parteira em parteira, de aborto em aborto, sem qualquer esclarecimento = custos hospitalares das consequências do aborto clandestino, morbilidade, infertilidade, mortalidade/ crianças abandonadas e maltratadas, por vezes, mortas = aumento da delinquência e da criminalidade / más condições de vida / falta de informação / mau desenvolvimento sócio-económico = aumento do aborto clandestino/ diminuição da taxa de natalidade, etc, etc, etc....
Pelo contrário, se o SIM ganhar, ganha a Vida, não falo, apenas, da vida das mulheres e adolescentes que recorram à IVG (interrupção voluntária da gravidez ou, aborto na linguagem do povo), mas também, pelas IVG / abortos que se podem evitar.
Vejamos o exemplo prático da Alemanha e de outros países desenvolvidos, onde a taxa de abortos tem vindo a descer:
- A mulher ou adolescente que pretende fazer a IVG é avaliada, previamente, em consulta com médico e psicólogo, onde são avaliadas as causas daquela gravidez indesejada e as razões de querer interrompê-la, e onde, também, são dadas alternativas e outras resoluções práticas para o problema em causa. A mulher, o casal ou a família, têm 3 dias para ponderar a sua decisão. Nalguns casos, são aceites as alternativas e desistem da IVG. Nos casos em que a decisão de realizar a IVG é irredutível, esta acontecerá em condições de segurança, com técnicos especializados, por vezes, com um medicamento, dispensando qualquer intervenção invasiva. Em ambas as situações, estas mulheres ou estes casais são, automaticamente, encaminhados para consultas de planeamento familiar, onde cada caso é estudado e tratado, de forma a evitar futuros abortos ou gravidezes indesejadas.
Exemplos:
- Um casal que tem vários filhos e não pretende ou não tem meios de aceitar mais um elemento na família, mas a mulher não pode usar a pílula ou alguns dos métodos mais seguros, devido a ter hipertensão arterial ou outros problemas de saúde, é proposta a laqueação de trompas ou a vasectomia (marido).
- Uma adolescente que iniciou prematuramente, a sua vida sexual, mas não está preparada para ser mãe, é-lhe receitada a pílula contraceptiva e é devidamente informada acerca do seu uso e a forma de evitar as suas falhas.
- A mulher que deseja ter filhos mas não tem condições sócio-económicas para tal, é encaminhada para uma assistente social de forma a encontrar-se alternativas viáveis para os seus problemas e poder, assim, realizar-se como mãe, sem ter de abandonar ou dar os seus filhos.
É por terem optado por uma estratégia inteligente e racional em relação à IVG, que estes países estão a diminuir, progressivamente, a sua taxa de aborto e até, ultimamente, a aumentar a sua taxa de natalidade, pois conseguiram sair do mórbido ciclo vicioso do aborto clandestino e iniciar os passos fundamentais para um melhor desenvolvimento sócio-económico, em que há mais gravidezes planeadas, menos crianças abandonadas, melhor qualidade de vida.
Resta perguntar aos portugueses se preferem continuar «orgulhosamente sós» com a sua vergonhosa taxa de aborto clandestino e mulheres mortas na sequência deste, ou apanhar «o comboio do desenvolvimento», unindo-se aqueles que estão melhores que nós, para acompanharmos a sua evolução?!
Queremos continuar reféns de doutrinas religiosas, dogmas éticos e falsos moralismos, mantendo a aparência de sermos superiores aos outros, mas, na realidade, só ganharmos os primeiros lugares nos maus tractos infantis, na mortalidade materna e infantil, e na prisão de mulheres?!
Pensemos no país que vamos deixar aos nossos filhos. Votemos, convictamente, SIM, pela vida, pela saúde, pela evolução, pelo amor ao próximo!
Nota esclarecedora, em relação a alguns argumentos pouco racionais, mas capazes de iludir os mais incautos: Só pode agradecer por ter nascido quem, efectivamente, nasceu (e que não foi mal tratado pela vida). Aqueles que não nasceram porque foram abortados pela mãe ou pela natureza, não podem ter pena de não ter nascido ou qualquer outro sentimento, pelo simples facto de não terem nascido. Infelizmente, também é necessário elucidar as pessoas que um feto de 10 semanas não sofre, nem elabora qualquer tipo de pergunta ou pensamento, pela simples razão de, nesta fase do desenvolvimento embrionário, não existirem as funções neurológicas que permitam tal
facto.
Ana F. Matos
Médica Cardiologista
*Mãe de duas muito amadas filhas e com a dramática experiência de ver chegar aos hospitais, mulheres e adolescentes aterrorizadas, com receio de serem denunciadas por aqueles que as deveriam tratar e salvar sua humana vida. Por vezes, chegam tarde demais!
Em memória de Tina
Tina (nome fictício) era uma menina angolana de 13 anos. Como era órfã, vivia numa casa sobrelotada com os tios e vários primos, num bairro social dos arredores de Lisboa. Um dia, ficou grávida de um primo mais velho, que a aconselhou a abortar para não ser expulsa de casa. Juntos, procuraram então, uma mulher do bairro que resolveria o problema. Porém, como não possuíam o dinheiro suficiente para pagar o «serviço», a dita mulher introduziu um objecto no útero da adolescente e garantiu que só o retiraria quando recebesse o restante pagamento. O primo tentou arranjar o dinheiro, mas demorou demasiado tempo e a jovem morreu, após vários dias de hemorragias. Nunca recorreu ao hospital por receio de ser denunciada.
Esta é uma das graves consequências da incriminação e consequente aborto clandestino.
Até quando, condenaremos à morte, estes seres humanos? Ou a «Santa Inquisição» do séc. XXI considera que deverão morrer pelo seu «pecado»?!
(Tomei conhecimento desta história verídica através de uma senhora angolana que trabalhou em minha casa e tinha morado no bairro desta criança)
PS-Em 2005 morreu outra adolescente de 14 anos, vítima do aborto clandestino (não era um ovo, não era um feto, era um ser humano já formado, já nascido, já crescido, poderia ser nossa irmã, nossa filha, mas era, sem dúvida, nossa semelhante, que segundo Cristo, deveríamos amar, mais do que condenar, por isso, tudo fazer para nunca mais se repetir.
Ana Matos
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