Aqui está, em primeira mão, o artigo (versão nao censurada) publicado n´O Primero de Janeiro de amanha, quase hoje, sexta, na coluna "bravos do mindelo", "versão impressa" deste blog, conforme já anunciado:
Com toda a sinceridade, gostei de ler o teu livro. Afinal não é todos os dias que alguém nos abre uma janela para o “mundo real”, ou submundo como tu escreves. E sem estas janelas não é possível evoluir. Fiquei espantado com a tua coragem. Com a forma como assumes os erros do passado, teus e dos outros. E acima de tudo com a tua determinação em denunciar aquilo que dizes que não devia existir.
Foste chamada de puta e muito mais, como esperavas. Por gente séria com sérias telhas de vidro. Foste apedrejada em praça pública, em especial por quem quer manter o statu quo. Mas não te quero fazer de vítima ou santa, não sou assim tão ingénuo. Como tu admites no livro, tens muitas culpas no cartório e sempre escolheste o teu caminho. Mas se a própria vítima das agressões que ordenaste te perdoou, quem sou eu para atirar pedras?
Pessoas sérias ficaram chocadas com os pormenores da tua vida pessoal. Acham que não tinhas o direito de os contar. É pena. É pena que não tenhas ganho o prémio Nobel da literatura, que a tua amiga que escreveu o livro não tivesse um pouco mais de talento. Se fosse esse o caso ninguém te acusaria. Parece que em Portugal contar casos de “facadas” no matrimónio, pancada e pormenores íntimos das pessoas próximas é algo reservado ao Saramago e às “pequenas memórias”, ou às memórias das pessoas pequenas.
Graças ao teu livro foi possível dar andamento a processos que combatem a corrupção desportiva. Sou fiel ao Porto e admirador confesso do Pinto da Costa (afinal, também sofro de clubite aguda), mas quero justiça nos resultados. Prestaste um serviço público, denunciando o que sabes. Quantos de nós têm essa coragem de pôr, preto no branco, tudo aquilo que sabem? Houvesse mais coragem assim e haveria menos crime.
Será tudo verdade o que escreveste? Haverá alguma biografia 100% sincera? Impossível, diria eu. Terá sido mesmo coragem? Para lavar a consciência? Ou mera vingança pessoal? Terá sido para te protegeres? Há quem te acuse que foi apenas pelo dinheiro. Nisso concordo com o major, somos um país de invejosos. Olha, da próxima vez responde-lhes que o Paulo Morais, que até é professor universitário, também escreveu um livro, chamado “Mudar o Poder Local”, a delatar crimes de corrupção. E olha que ele não foi tão corajoso e não pôs os nomes aos bois…
O Banco Mundial disse que a diminuição da corrupção poderia pôr Portugal na rota do desenvolvimento, ao mesmo nível da Finlândia. Por isso tu e o Paulo, e todos os que denunciam casos de corrupção, ajudados pelo João Cravinho (por favor não te vás embora!) arriscam-se a serem mais importantes que o QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional – que nem sequer aborda este assunto...
“Parece ter chegado o tempo de começarmos a saber o que se passa”, como escreveu o Domingos Amaral no Diário Económico, na crónica que inspirou esta. A luta anti-corrupção (política, desportiva, económica…) começa a entrar na moda… mas precisamos de mais furacões “Carolina”. A Maria José Morgado é agora o bastião da nossa esperança. Sabes Carolina, eu não devia dizer isto mas até acho que vocês são parecidas, com esse vosso estilo de “quero lá saber da vossa opinião, eu quero é levar isto até ao fim”. E estou certo que também a ela muitos chamam de puta, os tais das telhas de vidro. Por isso aqui fica o meu agradecimento pela tua coragem e o incentivo para ajudares a Maria no que puderes. Bem hajam!
PS- No último artigo prometi ser mais positivo (consegui parcialmente) mas o famoso problema da quadratura não tem solução: quadrado e círculo nunca ocuparão o mesmo espaço. Por isso no próximo artigo prometo deixar o quadrado (“corrupção - política – futebol – construção imobiliária”) e centrar-me no círculo (“desenvolvimento sustentável”). Vamos a ver se resulta melhor.
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2 comentários:
relamente a Carolina e a Mª Jose Morgado são parecidas...quase nada as distingue, aliás...apenas com a diferença que no Calor da Noite a Mª José não seria tao bem sucedida.
Gostei da comparação com Saramago...
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